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10 de setembro de 2017

Uma Reflexão sobre a novela A Força do Querer - Blog e-Urbanidade

Carol Duarte nas duas fases de
A Força do Querer
 As novelas brasileiras são, sem dúvida, um dos grandes produtos culturais do Brasil, além de entretenimento, muitas produções foram capazes de reunir seus telespectadores em torno dos mais variados temas. Mesmo que acredite-se num decrescente interesse por essas produções nacionais, A Força do Querer vale uma análise.

Glória Perez, a autora solitária da novela das nove, já mostrou sua forma peculiar, traquejo com histórias mirabolantes, algumas ótimas e outras irregulares, e capacidade de mostrar a periferia com suas mulheres operísticas, com tom acima.

A autora de A Força do Querer repete personagens de outras produções, como Caminho das Índias, América e O Clone. Outro traço da sua teledramaturga é a criação de vários núcleos que pulveriza, mas é uma forma de criar possibilidades para tramas e gostos. Perceptível, também, na sua minissérie Amazônia, de Galvez a Chico Mendes.

Enquanto Glória já mostrou, por exemplo, granfinas cleptomaníacas, agora foi a vez de uma viciada em jogos. Graças ao carisma de Lilia Cabral a personagem morna sobrevive.

Por sua vez, A Força do Querer inova ao retratar dois universos: tanto da Bibi (Juliana Paes) e da Ivana (Carol Duarte).

Bibi, a mulher comum que se envolve no tráfico, inspirada no livro Perigosa, de Fabiana Escobar, traz para a dramaturgia brasileira personagens de caráter questionáveis e presentes na chamada terceira onda criativa da teledramaturgia americana. Bibi tem trajetória similar de Walter (Breaking Bad). Sua transformação gradativa revela uma heroína complexa que transita em várias camadas éticas, deixando o público o tempo inteiro refletindo sobre esses limites.

Por outro lado, o transgênero interpretado por Carol Duarte, Ivana, é o mais inovador em A Força do Querer. Ainda sendo um assunto retratado em produções mais limitadas, inclusive já falamos de algumas delas aqui, como o seriado da Amazon, Transparent, e o documentário Laerte-se, Netflix, era difícil imaginar que isso chegaria tão rápido em uma novela da TV Globo.

A atriz Maria Clara Spenelli
interpreta Mira
O roteiro deixa monocórdio demais quando, por exemplo, Eurico (Humberto Martins) ao ouvir a história solte frases apenas preconceituosas. Obviamente isso é real, mas poderia ser mais elaborado. Inclusive quando Ivana se revela aos pais e sai de casa, valeria a pena a autora ter assistido a entrevista de Lea T e seu pai Toninho Cerezo, no Programa do Bial.

Mesmo assim, a trama de Ivana tem muitos pontos positivos. Incluindo a participação de Silvério Pereira que eleva o núcleo com sua participação pregressa na companhia cearense, Coletivo Artístico As Travestidas. Vale ainda elogiar a escalação em outro núcleo da atriz, transgênero, Maria Clara Spenelli interpretando um cisgênero. Isso sim revela uma produção realmente envolvida com o tema e com a quebra do preconceito.

A Força do Querer está perto do fim e aponta que as novelas parecem ainda ter gás para sobreviver. Basta observarmos as outras produções no ar da TV Globo que são inovadoras e saem do formato tradicional. Isso mostra que antes de propor diferentes linguagens o mais importante numa produção para a tevê está na elaboração de bons personagens: ambíguos e deslocados da classificação dicotômica de mocinho e vilão.

5 de setembro de 2017

Boca de Ouro de Gabriel Villela - Blog e-Urbanidade

Malvino Salvador é o Boca de Ouro
de Gabriel Villela
Foto: João Caldas
O que esperar do clássico Boca de Ouro dirigido por Gabriel Villela? Batata! O encontro de dois universos próprios, de traços marcantes, na leitura do mundo e das artes cênicas. A montagem em cartaz no Tucarena, com o elenco afiado encabeçado por Malvino Salvador, Lavínia Pannunzio e Mel Lisboa, é de impressionar, mesmo não sendo possível esperar outro resultado ao ler nos créditos o nome do dramaturgo e do diretor.

No palco a história do bicheiro Boca de Ouro (Malvino) assassinado e algumas versões dos fatos é contada, (re)contada e (des)contada durante a encenação. Assim, além de toda a verve rodriguiana, aqui o dramaturgo expõe como a realidade pode assumir contornos diferentes a partir do olhar e dos sentimentos do seu interlocutor. Inclusive como tudo pode virar espetáculo, mesmo diante da tragédia humana.

Dai, Gabriel faz a leitura do clássico a partir do seu olhar estético apurado, com referências mitológicas. Aqui ele apropria tanto da música carioca (e francesa) para marcar os dramas, como do frequente detalhismo, que lhe é peculiar, no figurino, iluminação e cenografia. Por fim, o texto impostado dá um tom irônico e cômico sobre a história cruel de um assassinato.

Boca de Ouro de Gabriel é um melodrama sobre a pós-verdade e é nesse viés que o montador apropria das diferentes versões da história. Por isso, assim que o expectador entra na sala, há uma imersão na visão mitológica do protagonista, presente nas almofadas douradas e na gafieira onde acontecerá todo o jogo cênico. E quando as luzes apagam, ao final, ninguém ao certo sabe qual é a verdadeira história, quem é realmente o bicheiro e mais uma dúvida: o que é mesmo essa tal verdade.

É preciso elogiar, também, a provocação ao desconstruir a figura do mocinho global, Malvino Salvador, ao interpretar esse bicheiro que trocou seus dentes por dentadura de ouro, interpretado em 1963 pela figura lendária de Jece Valadão. E em poucas montagens é possível ver um elenco tão bem preparado e uniforme em seus diferentes personagens. Além dos já citados, vale exaltar Claudio Fontana (fiel escudeiro de Villela), Chico Carvalho (espetacular nas cenas finais), Cacá Toledo, Leonardo Ventura (como esposo traído), Mariana Elisabetsky (a belíssima crooner da gafieira), Guilherme Bueno (em papel pequeno) e o pianista Jonatan Harold.

Se há alguma coisa a lamentar em Boca de Ouro são os preços dos ingressos, mesmo constatando que vale centavo por centavo. O teatro estava lotado, mas é uma pena que uma montagem tão brilhante possa ser acessada apenas por um grupo seleto. Deveria ter mais patrocinadores para chegar aos teatros com preços populares.

Não deixem de ver!

Serviço:
Teatro Tucarena
Rua Monte Alegre, 1024 (entrada pela Rua Bartira) – Perdizes
Sexta-feira e Sábado: 21h. Domingo: 18h30
De 11 de agosto a 29 de outubro
Sexta-feira: R$ 50
Sábados e domingos: R$ 50 a R$ 70.

3 de setembro de 2017

Como Nossos Pais - o filme - Blog e-Urbanidade

Como Nossos Pais
estrelado por Maria Ribeiro,
Clarisse Abujamra e
Paulo Vilhena
O aguardado Como Nossos Pais da diretora Laís Bodansky após a trajetória bem sucedida ao ser selecionado no Festival de Berlim e ter levado os principais Kikitos no Festival de Gramado, incluindo melhor filme, chega as telas. Com o mote de expor a dura pressão que as mulheres passam ao assumir diferentes papéis, e em ser bem sucedido neles, expõe uma das boas produções brasileiras atuais.

A diretora Laís volta a aplicar seu olhar em enquadramentos em que história dos seus personagens nem sempre está em primeiro plano, como se o expectador estivesse a espreita, olhando a vida alheia pela fresta da porta. Então, é possível assistir (ou ouvir) o confuso cotidiano de um casal e suas duas filhas, enquanto a câmera aponta para a sala vazia,  e registra seu fechamento com o marido correndo para uma viagem.

Em alguns momentos essa característica de nem sempre estar enquadrado nos personagens parece excessivo. Mesmo assim, é genial o travamento da câmera nas cenas que apontam Rosa (Maria Ribeiro) no seu quarto, no papel de esposa, e onde dorme suas filhas, no papel de mãe.

O roteiro é assinado por Laís e Luiz Bolognesi (em cartaz, também, em Bingo - o Rei das Manhãs). A dupla também roteirizou Bicho de Sete Cabeças e agora apontam para uma construção madura, às vezes irregular, com ótimas cenas e falas, mas outras didáticas demais. Por exemplo, o texto entre os atores Maria e Herson Capri, dentro do escritório, chega a incomodar diante da impostação e diálogo sem embocadura.

Por outro lado, existem cenas ótimas e muito bem construídas. Entre elas quando Rosa conversa com sua mãe, Clarice (Clarisse Abujamra), dentro do carro, após comprar um maço de cigarro na banca. Sem dúvida, uma das mais brilhantes da película.

As interpretações precisam ser elogiadas, incluindo Clarisse (que levou o Kikito de Melhor Atriz Coadjuvante), Maria Ribeiro (Kikito de Melhor Atriz), o inesperado Paulo Vilhena (Kikito de Melhor Ator) e a ótima participação de Jorge Mautner.

Clarisse reina absoluta. Por sua vez, Maria mostra muita habilidade para suas cenas, mas a semelhança com a Maria Ribeiro beligerante em suas participações em Saia Justa (GNT) dá certo estranhamento para entender quando estamos frente a atriz ou personagem. Para isso, mais um ponto a favor da Laís para a escalação da intérprete.

Como Nossos Pais é um filme de mulheres, talvez feminista, daquelas que conseguiram sua independência, pós Malu Mulher (1979 - Globo). Agora ela se sente sobrecarregada com seus múltiplos papeis: filha (da mãe e do pai), mãe, esposa, amante, profissional, artista, irmã, cunhada, etc e tal.

Com a trajetória da heroína que precisa ser mais leve com quem a cerca e, por fim, consigo mesma, Como Nossos Pais é sensível, ao mesmo tempo forte, e aponta para uma diretora cada vez mais consciente do seu olhar cinematográfico próprio. Incluindo sua feliz estratégia em lançá-lo depois da consagração no Festival de Gramado, constatado nas salas de cinema cheias.

1 de setembro de 2017

Nery Gomide recebe homenagem do Teatro Zero Hora - Blog e-Urbanidade

O dramaturgo, poeta e agitador cultural Nery Gomide, que surgiu na cena teatral nos anos 1960 e faleceu em 2004, será homenageado no Teatro Ribalda (SP) a partir de 07 de setembro. O evento contará com sarau, coquetel, trechos de peças e leitura encenada de uma de suas obras.

Nery Gomide
A abertura contará com a presença de Rodrigo Habermann e texto interpretado pelos atores Ju Carrega e Sergio Seixas no Hall do teatro. Um mestre de cerimônia conduzirá a programação da noite que tem como grande destaque a apresentação de peças curtas do dramaturgo. Também integra a lista de atividades a realização de um sarau.

Nery Gomide era filho de escritora e poetisa, começou a chamar a atenção no teatro junto com autores como Timochenko Whebi, José Vicente, Antonio Bivar, Leilah Assunção, Consuelo de Castro. O dramaturgo escreveu inúmeras peças, entre elas: RUA 10; Assunta do 21 (vencedor do IPCA como autor revelação); O Espelho Partido; Halloween, o dia das bruxas; O Leão e o Esquilo e História de Todas as Coisas e Despedida de Solteiro

A idealização do evento é de Hermes Altemani, Kiury, Rodrigo Ferraz e Renato Alves. Os textos encenados serão dirigidos por Kiury, Ferraz e Alves e os atores serão escolhidos a partir de testes e convites.

O Teatro Zero Hora teve seu ápice na década de 1980 e lançou diversos artistas e era frequentado por importantes figuras da cena teatral, entre eles, Plínio Marcos, Fauzi Arap, Walderez de Barros, Read Guirar, Marcos Caruso, Odilon Wagner, Sebastião Apolonio, Antonio Petrin, Mario Bortolotto, Ligia de Paula, Cia Os Satyros e Ruthinea de Moraes.

Serviço: 
O Zero Hora Celebra Nery Gomide
Data: 07/09.
Horário: a partir das 18h.
Local: Teatro Ribalta. Rua Conselheiro Ramalho, 673. Bela Vista/SP.
Travessa da Av. Brigadeiro Luís Antônio – Próximo do Metrô São Joaquim.
Pague quanto puder.
Para saber mais: https://www.facebook.com/OZeroHoraCelebraNeryGomide/

28 de agosto de 2017

Bingo - o Rei das Manhãs - Blog e-Urbanidade

Bingo - o Rei das Manhãs é o filme de estreia em direção de Daniel Rezende e trata-se de uma biografia livre do palhaço Bozo, ator Arlindo Barreto, campeão de audiência nas manhas das tevês nos anos 1980. Em época sem preocupação com o politicamente correto, o longa-metragem bem protagonizado por Vladimir Brichta tem ótimas qualidades que valem a ida ao cinema.

Bingo - o Rei das Manhãs
estrelado por Vladimir Brichta
Daniel Rezende foi montador de grandes filmes brasileiros e americanos, como Robocop, 360, Tropa de Elite e por ai vai, e mostra muita competência na sua primeira imersão na direção. Bingo - o Rei das Manhãs tem ótimas imagens, excelente direção de atores, alguns planos sequências e cuidado estético.

O roteiro é assinado por Luis Bolognesi que tem no currículo o esperado Como Nosso Pais e Bicho de Sete Cabeças. Tendo como ponto de partida a relação de Augusto com seu filho, o script é alinhavado no tom de dramédia, sem caricatura, fazendo rir e emocionar. Assim, a jornada do personagem fica verossímil desde a sua entrada no universo do palhaço a sua redenção.

Vladimir interpreta um Bingo/Augusto eficiente tanto nos momentos dramáticos e engraçados. As participações de Augusto Madeira, Ana Lucia Torre e Emanuelle Araújo (Gretchen) são certeiras e defendem bem seus personagens. Leandra Leal e Tainá Müller estão bem em suas interpretações, porém um pouco burocráticas.

Um personagem importante em Bingo - O Rei das Manhãs é a reconstrução dos anos 1980. É divertido, principalmente para quem está na faixa dos quarenta anos. Por outro lado, essa reconstrução não se torna chata e não fica maior do que a história a ser contada.

Por fim, além de tudo isso, Bingo - O Rei das Manhãs tem o registro inédito do trabalho de Domingo Montagner tanto interpretando um palhaço, como sendo elemento fundamental na montagem do roteiro e na preparação do ator Vladimir para construção do seu personagem.

Sem dúvida por Bingo vale a pena a ida ao cinema.


25 de agosto de 2017

Stonewall: Onde o Orgulho Começou - Blog e-Urbanidade

Stonewall: Onde o Orgulho Começou (Telecine) está longe de ser um grande filme, mas tem o seu valor e deveria ser assistido para se entender o termo "orgulho gay" e o movimento das paradas glbt espalhadas pelo mundo.

Stonewall conta a história do movimento
glbt em 1969
O roteiro parte da história ficcional, mas verossímil, de Danny (Jeremy Irvine) que é expulso de casa após seu machista pai ficar sabendo da relação dele com um outro colega da escola onde ele é professor. Assim, Danny vai parar exatamente na esquina da Sétima avenida com Christopher Street em Nova Iorque.

Ali se envolve com um grupo composto por travestis e michês, incluindo um relacionamento com o ativista Trevor (Jonathan Rhys-Meyers). Nessa imersão o roteirista Jon Robin Baitz (que assinou também Alias e Brothers & Sisters) consegue apresentar as diferentes camadas e grupos envolvidos no importante movimento.

O bar Stonewaal e a praça onde acontece a cena principal pode ser visitada em Nova Iorque e isso torna a história muito mais forte, apesar de não ter recebido boas críticas pela militância quando foi lançado em 2015.

Stonewall: Onde o Orgulho Começou é um filme correto, sem grandes peripécias mesmo sendo dirigido por Roland Emmerich que esteve a frente de produções como Independecy Day e 2012. A capacidade de apresentar os diferentes grupos envolvidos no movimento de 1969, unida a jornada de Danny, tornam o filme uma boa referência histórica.

Por ora está disponível no Telecine e Telecine Play. É um longa-metragem necessário para quem quer realmente entender porque quase três milhões de pessoas foram parar na avenida Paulista na Parada Gay deste ano, por exemplo. Inclusive porque toda aquela festa e sua irreverência é, antes de qualquer coisa, um elemento que está no dna desse movimento.

22 de agosto de 2017

Canto Para as Estrelas - Blog e-Urbanidade

Renata Peron leva aos palcos da Casa Café Teatro o monólogo musical Canto para as Estrelas que homenageia grandes nomes da Música Popular Brasileira, em seis edições.

Cantora Renata Peron
Foto - Divulgação
Para justificar a escolha dessas seis divas, a militante LGBT Renata declara que "num país como o nosso, onde uma travesti ou uma transexual é sempre vista como objeto sexual e vive na marginalidade e prostituição, quando eu assumi a minha identidade de gênero feminina, essas cantoras foram inspirações para mim porque eu sempre fui artista e trabalhei com música".

As apresentações têm direção de Rodrigo Ferraz e supervisão artística de Danilo Miniquelli. A edições acontecerão sempre nas primeiras quintas-feiras de cada mês e na estréia, dia 07 de setembro, a artista levará para o palco canções de Maria Bethânia.

A paraibana Renata chamou a atenção do grande público em programas como X Fator Brasil (Band) e Qual é o Seu Talento (SBT). Entre os destaques da sua carreira, a gravação de um disco com composições de Noel Rosa, Peron conta e canta Noel Rosa, que se transformou em DVD. No total, possui quatro discos e um DVD gravados. No teatro, já atuou em montagens como “As Criadas” e “Os Supra Anjos”, dirigidas por Welington Monteclaro, e “Pobre Super-Homem”, de Jean Mendonça.

Veja a programação:
7/09 – Maria Bethânia
5/10 – Elis Regina
2/11 – Clara Nunes
7/12 – Alcione
4/01 – Gal Costa
1/02 – Elza Soares

Fiquem atentos!

Serviço
Casa Café Teatro
Rua Treze de Maio, 176, Bela Vista
(11) 3159-0546
Horário: 21h
Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia-entrada)

20 de agosto de 2017

Em Ritmo de Fuga - Blog e-Urbanidade

Em Ritmo de Fuga (Baby Driver) tem uma premissa bem simples e repetida: trata-se de um filme de fuga de assaltantes em roubos fenomenais. Porém, a película do diretor Edgar Wright surpreende pela capacidade de apresentar essa narrativa de forma inusitada e com jeitão de vídeo-clipe.

Sem dúvida, o grande diferencial de Em Ritmo de Fuga está na direção. O roteiro é bem básico: Baby (Ansel Elgort) é um garoto que dirige muito bem e tem a missão de tirar os assaltantes da cena do crime, por meio de manobras incríveis. Por ter problema de audição, o rapaz está sempre com seu fone de ouvido, escutando alguma boa música.

Apesar de não ter um furo no roteiro, por exemplo, a relação de fidelidade de Baby com Doc (Kevin Spacey) não chega a convencer.

As primeiras sequências de Em Ritmo de Fuga são dois pontos altos do filme. A abertura com Baby dublando uma música, enquanto aguarda o retorno dos assaltantes, é um convite eficiente para o assistidor entrar na história. Em seguida,  a fuga pelas ruas são eletrizantes e mostra o que vem na próxima hora de projeção.

Na próximoa sequência Wright dirige um plano sequência com Baby indo comprar café na esquina. A sequência tem jeito de musical, como La La Land, e, definitivamente, é ali que o expectador se sente à vontade Em Ritmo de Fuga. Porém, é a partir daqui que o filme começa a ser um pouco irregular.

O romance de Baby com a atendente da lanchonete, Deborah (Lily James), é leve e se assiste com um sorriso no rosto. Lily constrói uma personagem carismática e a dupla funciona bem. As brincadeiras em encontrar músicas com o nome deles é uma boa estratégia do roteiro.

O restante do elenco, que não é fraco, se destaca. Kevin Spacey e Jamie Foxx fazem seus personagens habituais, o chefão duro e o sujeito revoltado mas com humor, respectivamente. Já Jon Hann surpreende em fazer um vilão bem fora da curva dos seus últimos personagens.

Em Ritmo de Fuga é, antes de mais nada, um filme para quem gosta de boa música e se propõe a assistir uma produção bem feita, criativa e que foge do senso comum dos filmes desse gênero.

Assista o trailer e veja como o diretor mistura música com a sonoplastia da cena.


17 de agosto de 2017

Série Ozark - Blog e-Urbanidade

Ozark, série da Netflix, tem comparação imediata com o cultuado Breaking Bad, disponível na mesma plataforma. Isso se deve a semelhança das suas premissas: a história de sujeitos (e suas famílias) comuns imersos no mundo do crime por escolhas questionáveis, mudando totalmente o conceito de mocinho e vilão nas séries televisivas.

O casal interpretado por Jason Bateman e Laura Linney
Ozark é estrelado por Jason Bateman (também assina a direção e produção executiva) e a ótima Laura Linney. A dupla de criadores Bill Dubuque e Mark Williams (II) vem de parcerias anteriores como O Contador, Um Homem de Família e O Juiz.

O protagonista Marty Byrde é um contador detalhista e chama a atenção do chefão do tráfego após uma consulta profissional. Assim, ele se torna a pessoa ideal para ajuda-los a lavar o dinheiro oriundo do crime. Enquanto em Breaking Bad o personagem principal parte nessa empreitada solitariamente, sem o apoio da família, em Ozark isso já é bem diferente. Dessa forma, a mudança dos Byrdes para a cidade Ozark, um local distante e vive do turismo dos seus lagos, parece ser o lugar perfeito para se lavar dinheiro, rapidamente.

A chegada a Ozark não é tão simples. Entrar ali e apenas lavar dinheiro, desapercebidamente, parece não ser tarefa das mais fáceis. Desde traficantes, bandidos, policiais e batedores de carteira começam a cruzar o caminho da família Byrde.


5 motivos para assistir Ozark


1) O seriado é extremamente bem conduzido. O roteiro tem alguns furos e deslizes, mas podem ser relevados diante da capacidade de prender o telespectador. É um daqueles seriados que bebem da fonte de ter boas viradas a cada bloco de 10 ou 15 minutos. Além disso a mistura da trama principal com a relação familiar e do casal Byrde fazem uma costura perfeita da história do homem atormentado entre a vida e a morte.

2) O cuidado estético é impressionante. Criado em tons acinzentados, mesmo no verão, torna o clima de Ozark perturbador e quase inóspito. Mortes inesperadas, cabeças estouradas a tiros e corpos eletrocutados são muito bem produzidos, tornando o suspense mais verossímil e impressionante.

3) Apesar de Jason Baterman ser a grande estrela, é Laura Liney quem dá um show de interpretação. Só para vê-la nas cenas que misturam ironia em suas falas vale assistir Ozark. Sua capacidade de mudar feições e trazer verdade a relação familiar faz a da atriz um dos grandes acertos da série. É dela os melhores momentos.

4) Alguns episódios são extremamente bem conduzidos. O piloto é um dos melhores já visto diante da capacidade de prender à história daquele contador sem graça a partir dos quinze minutos mornos iniciais.  O episódio final, e mais longo, é capaz de absorver a atenção e ter tantas reviravoltas que é quase impossível se ter certeza sobre qualquer coisa antes dos créditos. Agora, o episódio oitavo que retorna dez anos na trama para explicar como chegaram ali é extremamente bem feito e tem um alinhamento próprio de idas e vindas que tornam um dos melhores de toda a temporada.

5) O tom de discurso político e econômico explicito na cena em que o filho mais novo da família Byrde expõe na escola valeria uma reflexão. O crime organizado e o tráfego de drogas é um problema, mas é, antes de mais nada, um dos grandes geradores de renda em vários países. E em momento de tanta notícia de lavagem de dinheiro na política brasileira, nos informada diariamente pelos jornais, Ozark está longe de ser um ficção.

A Netflix anunciou a segunda temporada de Ozark. Sem dúvida, tem tudo para ser mais uma grande série.

Assistam.

16 de agosto de 2017

Dunkirk - Blog e-Urbanidade

Por Rodrigo Vieira 

Já se vão quase 20 anos que Steven Spielberg tomou de assalto os filmes de guerra e nos entregou a acachapante sequência inicial de O Resgate do Soldado Ryan. De lá pra cá, as tentativas hollywoodianas de trazer à tona o caos e o horror dos campos de batalhas têm resvalado sempre no padrão estabelecido pelo diretor de E.T. Eis que Cristopher Nolan, em um projeto de carreira que parece cada vez mais se aproximar da tentativa de unir o perfeccionismo e a grandiosidade de Kubrick ao senso de espetáculo e emoção de Spielberg, tenta trazer ao tema da segunda guerra um novo patamar em experiência cinematográfica.


Cena do filme Durkirk
Dunkirk conta a história do resgate dos soldados britânicos presos na costa da cidade francesa que dá titulo ao filme. Vendido pelo próprio cineasta como uma experiência de realidade virtual sem óculos, Dunkirk imerge o expectador dentro da história através de três núcleos distintos, mas que se cruzam: o dos soldados presos na costa, esperando por resgate; os pilotos que fazem a cobertura aérea para o resgate; e, por fim, uma família civil britânica dentre as várias convocadas para o resgate, pelo governo britânico, em suas embarcações domésticas.

Do ponto de vista técnico, a película é um verdadeiro tour de force. Desde as imagens capturadas com as câmeras iMax, passando pelo excepcional trabalho de som e a trilha sonora excelente de Hans Zimmer (assíduo colaborador do diretor), tudo contribui para a sensação de estar dentro do combate, vivenciando todos aqueles momentos. O problema é quando viramos o olhar para o lado emocional da película…

Nolan opta por contar sua história através de uma narrativa que embaralha a questão temporal, forçando o espectador a ligar os pontos e montar a sequencia dos fatos na sua cabeça, num crescendo de tensão que carrega o público pela mão. Se por um lado esse recurso faz com o que o público se sinta inteligente ao conseguir desvendar o mistério, por outro ele acaba parecendo um artifício para trazer complexidade a uma trama extremamente simplória, que perde muito do interesse ao ser finalmente revelada.

Caso o diretor conseguisse despertar emoções maiores na tela, seria possível que tais problemas não saltassem tanto aos olhos. Mas não é o caso. Nolan é muitas vezes acusado de uma certa frieza em suas películas e Dunkirk não é uma exceção à regra. O caos nunca pareceu tão ordenado e o desespero tão ensaiado. E aí o castelo de cartas construído durante toda a projeção enfim desaba: se o primeiro e segundo atos vão trazendo uma dose cada vez maior de tensão para história, o clímax não se cumpre, já que não estamos muito conectados com aqueles personagens, que se mostram planos durante toda a projeção.

Não me entenda errado: Dunkirk é um espetáculo de primeira, com a grandiosidade que se espera de um filme de guerra feito por um dos diretores mais talentosos de uma geração. Mas também mostra o quanto este ainda tem um grande percurso a percorrer para figurar lado ao lado dos mestres que são sua referência.

10 de agosto de 2017

Minha Urbe: Fim de Semana em Sampa - 3º dia - Blog e-Urbanidade

Chegamos no domingo, clique aqui, 1º dia e 2º dia, para ler nossas dicas deste fim de semana basicão em Sampa.

Domingo

Se você gosta de acordar cedo, tenho duas sugestões imperdíveis para vocês:

Foto da área interna da Sala São Paulo
1) Chegue às 7h da manhã na igreja do Mosteiro São Bento e assista a missa com apresentação de coral de canto gregoriano. É de arrepiar.

2) Chegue às 9h na Sala São Paulo e pegue um ingresso para os ensaios da Orquestra Sinfônica de São Paulo. Começa às 11h, mas os ingressos gratuitos estão disponíveis duas horas antes. Além de ser uma experiência musical fantástica, o prédio e o teatro é um espetáculo à parte.

Em seguida, sugiro ir para avenida Paulista, tenho um post só com dicas sobre esse passeio: clique aqui.

Mesmo assim, aos domingos, muitos amigos que vêm para Sampa gostam de ir ao Eataly (Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 1489), o que não curto muito. Mas, eles tiram fotos, postam e dizem que adora. Na minha opinião é o mercadão (Mercado Central) "gourmetizado". Tem alguns restaurantes interessantes para comer, porém recomendo deixar para almoçar no Shopping JK que fica a algumas quadras.

Do Eataly ao Shopping JK dá para ir à pé. Recomendo os restaurantes: o velho e bom Rascal, os descolados ICI Brasserie Spot e o Varanda. Apenas não deixe de tomar um café na cafeteria em frente ao cinema, que tem um área externa muito gostosa. Aqui também é um lugar perfeito para tomar um espumante no fim da tarde.

Quanta coisa, hem? Espero que tenham curtido o fim de semana!

7 de agosto de 2017

Minha Urbe: Fim de Semana em Sampa - 2º dia - Blog e-Urbanidade

Temos muita coisa para fazer hoje. Calce um sapato confortável, tome um bom café no hotel e vamos a luta. Se não leu as sugestões do primeiro dia, sexta-feira, clique aqui.

Sábado

Comece por uma caminhada pela região central e recomendo dois pontos de partida: 1) Bairro da Liberdade (estação metrô Liberdade) ou; 2) pela Praça da Sé (estação metrô Sé). Se começar pelo primeiro, com uma caminhada de quinze minutos é possível chegar na .

A Liberdade é o típico bairro oriental de São Paulo. Dê uma passada pelas lojas no início da rua Galvão Bueno. Tem muita coisa legal nos mercados também.

Na Praça da Sé visite a igreja e o marco zero da cidade. Cuidado com sua bolsa, celulares e máquinas fotográficas. Mesmo que a polícia esteja presente e nunca tenha sido assaltado ali, ter cuidado sempre é bom.

Caminhe até o CCBB (R. Álvares Penteado, 11) e fique de olho nos prédios da região. Com certeza, você está diante dos mais bonitos complexos arquitetônico da cidade, mas podem estar mal cuidados. No CCBB tem exposições interessantes pelos seus andares. Se estiver a fim, vale subir. Se não, tome um café e dê uma olhada na lojinha no térreo.

Casa Mathilde
Próxima parada: Casa Mathilde (Praça Antônio Prado,76). Já falei deste lugar aqui e segue o link. Tem uma variedade absurda de doces, mas o pastel de nata é imperdível.

Ali na frente temos o prédio Martinelli, importante construção da história da cidade (uma pena que esteja também mal cuidado). Logo abaixo, o prédio dos Correios. Mas, temos pouco tempo. Outro dia você volta para ver alguma exposição lá. Também no Martinelli tem visitas guiadas e shows na sua cobertura.

Da Casa Mathilde vá em direção a Ladeira Porto Geral. Atenção, à sua esquerda estará o Mosteiro São Bento. Quando a ladeira chega, você verá muita gente e vendedores ambulantes. Ao pé estará a tradicional rua de comércio popular, 25 de Março.

Se escapuliu dali, vá para o mercadão, Mercado Municipal de São Paulo (R. Cantareira, 306). O lugar é mágico e muito gostoso de visitar, mas cuidado com os vendedores: vão fazê-lo experimentar vários tipos de frutas e vendê-las. Também tenho um post só sobre o Mercado Municipal: clique aqui.

Na parte de cima tem restaurantes e o tradicional sanduíche de mortadela. É uma refeição de respeito, mas sempre recomendo o pastel de camarão. Para mim, é o melhor.

Se estiver com fome vale comer aqui, inclusive nos restaurantes ao lado do tradicional Hocca.

Se topar, porém, sugiro almoçar lá em Pinheiros. Pegue um táxi (ou Uber ou Cabify) e vá para a Praça Benedito Calixto. Ali temos a tradicional feira de antiguidades, com lojinhas ao seu redor.

Aqui sugiro que pare para almoçar, tanto nas barracas como na feirinha de comidas da praça ou no Consulado Mineiro (Praça Benedito Calixto, 74), meu preferido. Mas, sempre tem muita espera. Se não estiver a fim, vá em algo mais rápido. Também tenho um post só de Pinheiros: clique aqui.

Siga, pode ser a pé, até o Beco do Batman (R. Gonçalo Afonso). É um lugar bacana para tirar fotos dos grafites.

Finalize sua tarde na rua Aspicuelta, pois você está na Vila Madalena, ou seja, no centro de diversão jovem da cidade. Tem vários barzinhos e pare para tomar um chope. Não se assuste com os preços!

Noite de Sábado
Casa de Francisca - um bom lugar para curtir à noite

Para a noite, vá assistir algum espetáculo. Não deixe de curtir a programação cultural. Dei algumas dicas de onde achar algumas atrações na primeira parte deste post.

Uma boa dica para a noite, também vale conferir a charmosa Casa de Francisca.

Quando sair do espetáculo, vá curtir um dos bons restaurantes da cidade. Existem várias opções. Seguem algumas recomendações:

Le Jazz (R. dos Pinheiros, 254 ou Dr. Melo Alves, 734) - tem unidade em Pinheiros e nos Jardins. A comida é sempre muito boa e não deixe de pedir as entradas. Os preços são justos.
Carlota (Rua Sergipe, 753) - refinado e tocado pela chef Carla Pernambuco, a comida é muito bem feita e vale o preço mediano.
Spot (Alameda Min. Rocha Azevedo) - cheio de gente bonita e descola, vale pela localização e a experiência. Preço mediano.
Ritz (Al. Franca, 1088) - meu restaurante preferido, pequeno e acolhedor. Tem preço bom e aproveite os drinks.
Mestiço (R. Fernando de Albuquerque, 277)- comida boa, principalmente para quem curte culinária com toque tailandês. Preço mediano
La Tartine (R. Fernando de Albuquerque, 267) - fica ao lado do Mestiço. É um lugar que tenho curtido muito. Comida boa, cardápio bem pequeno, mas preços ótimos, principalmente para quem curte um bom vinho.

Depois deste dia, vá dormir!

E clique aqui para ver o terceiro dia.

5 de agosto de 2017

Minha Urbe: Fim de semana em Sampa - 1º dia - Blog e-Urbanidade

São Paulo é uma cidade de mil facetas e propostas. Este roteiro é basicão, para um fim de semana, chega na sexta e vai embora no domingo à noite. Para quem está vindo aqui a primeira vez, por exemplo. Afinal, depois de conhecer algumas coisas mais básicas, em próximas visitas, é possível fazer programas mais específicos.

Sexta-feira

São Paulo é cheia de boas baladas, restaurantes e programas culturais. Assim, ao comprar a passagem dê uma conferida em teatros e shows, por exemplo.


Cartão Postal da
Famiglia Mancini Trattoria
Recomendo verificar as opções do SESC que tem preços bem atrativos e onde, normalmente, os grandes espetáculos começam sua trajetória e apresentações. Também vale dar uma olhada nos sites de venda on-line.

Caso opte em assistir algum espetáculo, já na primeira noite, tente chegar na cidade mais cedo, no máximo, 18h. Mesmo que as montagens iniciem entre 21h e 21h30, o descolamento, por exemplo, de Guarulhos até São Paulo, numa sexta-feira, não é nada fácil.

De qualquer forma, tem dois lugares que sugiro na sexta-feira e podem ser feitos juntos ou separados. Para os famintos, um jantar  em algumas das casas do complexo gastronômico da família Mancini, na rua Avanhandava, acho um bom começo.

O mais tradicional é a tratoria Famíglia Mancini (R. Avanhandava, 81) que sempre tem espera e, cuidado!, os pratos são muito bem servidos. É suficiente para três ou quatro pessoas. Se não estiver a fim de esperar, gosto muito da pizzaria, no início da rua.

Skye Bar
Foto de Divulgação do Hotel Unique
Antes ou depois, recomendo sempre uma passada ou happy hour no Skye Bar no hotel Unique (Av. Brigadeiro Luís Antônio, 4700). O lugar é charmoso, descolado, cheio de gente bonita e tem uma das vistas mais privilegiadas da cidade. Tomar um drink, sentado às mesas externas é um bom começo. Ali também é possível jantar no badalado restaurante do chef Emmanuel Bassoleil. O preço pode ser um pouco salgado, mas trata-se de uma das melhores gastronomias da cidade.

Para fechar a noite, São Paulo possui ótimas baladas. Dê uma pesquisada no seu estilo e lugar. Enquanto escrevo esse post, um local que tem reunido muita gente bonita, com música gostosa e DJ Zé Pedro à frente é o Club Jerome (R. Mato Grosso, 398). Ao ler essa postagem, dê uma olhada na internet sobre os comentários atuais sobre lá.

Não estique muito, o nosso sábado vai ser puxado!

Clique aqui para ver o segundo dia.

3 de agosto de 2017

Agreste - Teatro - Blog e-Urbanidade

Não dá para se dizer muita coisa após assistir a peça Agreste, o texto premiado do dramaturgo Newton Moreno. Aqui já comentamos duas montagens dele: Imortais e Maria do Caritó. O grande perigo aqui é de fazer qualquer spoiler da história e perder a força da dramatização.

Foto João Caldas - Divulgação
Em cena Juan Alba e Paulo Marcello
Agreste vem sendo montada por diferentes grupos e conferimos a encenação no Teatro Mungunzá, em cartaz até 31/07/2017, com os atores Juan Alba e Paulo Marcello (ator que fez a primeira montagem em 2004).

Assim como nos outros textos, em Agreste Moreno constrói sua dramaturgia a partir do universo sertanejo, onde o casal Maria e Etevaldo vive uma história de amor, relativamente tranquila, até a morte de um deles. A normalidade é quebrada e o preconceito passa a ser a tônica do conflito em cena.

O texto é inspirado em uma história verídica contada por uma amiga ao dramaturgo. Uma das estratégias de narração é o uso da metalinguagem para expressar e detalhar sentimentos e fatos. A troca dos atores tanto para representar personagens como para contar os fatos também é um dos destaques do roteiro.

A montagem de Juan Alba e Paulo Marcello foi capaz de trazer toda potência do texto, principalmente nas nuances dos dois personagens. O cumprimento dos dois atores no início da montagem, marcando o acordo do jogo cênico que vai começar, destacam o quanto nada está definido em Agreste. Porém, a marcação exagerada no posicionamento dos atores tira um pouco da naturalidade da montagem, mesmo acreditando ser uma escolha da direção de Márcio Aurélio.

É preciso ficar atento em novas montagens de Agreste pelo país. Sem sombra de dúvida após assistir a peça é possível entender os prêmios dados a Newton Moreno. Vida longa a ele!

1 de agosto de 2017

Tigrela - a peça - Blog e-Urbanidade

Tigrela, que está em cartaz no Espaço Parlapatões em São Paulo, trata-se de um universo dominado pelo sistema operacional, Tigrela, onde quatro personagens decidem fazer resistência a ele. Porém, esses indivíduos estão extremamente envolvidos com a instalação e criação desse modelo. Assim, assistimos os limites das relações de poder, incluindo o seu aniquilamento.

A montagem com direção e dramaturgia de Lucas Sancho acerta na produção focada no texto, atores e figurino. Vale destacar a iluminação feita a partir de lanternas e focos para criar sombras e diferentes proporções cênicas para seus personagens. O cuidado estético é um dos pontos altos da montagem, inclusive por tratar-se de uma produção sem patrocínio.

Foto: Paula Tonelotto
O texto dialoga com o momento atual, principalmente ao presenciarmos o quadro político do país. O uso da fala, música e imagens tornam o espetáculo e o tema mais palatável. Por outro lado, é um risco criar uma dramaturgia sobre um universo inexistente e surreal, mas isso é bem costurado em Tigrela. O texto só não deixa claro quem são os quatro personagens: ratos ou seres humanos?

A direção opta por uma montagem coreografada, percorrendo os diferentes espaços do palco. Em alguns momentos isso agrega ao criar um universo particular. O uso de flash-backs, técnica oriunda do cinema, para entrelaçar a trama podem funcionar, mas a troca de cenas poderia ser mais sutil. Cortes bruscos com alteração de luz, cenário e/ou figurino funcionam bem na grande tela ou televisão, porém no teatro ou o texto ou a direção precisam tornar isso mais lúdico.

O elenco composto por Igor Amanajás, Lucas Sancho, Renata Flores e Thaize Pinheiro é muito bem preparado e traz eficiente composição aos personagens. Apenas sente-se falta de perceber mais camadas dos personagens, ficando, em alguns momentos, muito perto da caricatura. Por exemplo, o ex-rei parece muito bem construído inicialmente, faltando um pouco mais de humanidade assim que a história prossegue.

Tigrela é uma boa oportunidade para entender o ser-humano, quem sabe até mesmo o Brasil, a partir de uma fábula. A boa qualidade estética e dramatúrgica da montagem valem a ida ao espaço Parlapatões.

Veja o teaser:



Serviço
Espaço Parlapatões – Praça Franklin Roosevelt, 158
R$ 40 e R$ 20 - Venda no local
De 23 de Junho a 11 de Agosto – Sextas às 21h
Classificação etária: 16 anos